“A acessibilidade deve ser pensada para todos”
Especialista diz que é preciso mudar o entendimento sobre o tema para que as leis de mobilidade sejam efetivadas.
O arquiteto e urbanista Mario Cezar da Silveira aparece nos auditórios em uma cadeira de rodas, onde palestra sentado, assim como qualquer outro cadeirante. Seu vasto conhecimento sobre acessibilidade já o levou para vários eventos em todo o Brasil, onde fala sobre sua experiência no assunto.
Silveira foi convidado pelo Ministério Público de Santa Catarina a participar do projeto Santa Catarina Acessível. Além disso, o especialista colaborou com a revisão de algumas normas para acessibilidade que hoje estão em vigor.
Especialista diz que é preciso mudar entendimento sobre o tema para que as leis de mobilidade sejam efetivadas (Foto: Maya Diaz/Diário do Sudoeste)
Naquela noite ele proferiu uma de suas palestras na UTFPR, que fez parte da programação da Semana da Inclusão, que acontece até a próxima sexta-feira, no campus Pato Branco. Ele esteve na universidade a convite da Empresa Junior de Engenharia Civil (PROjr).
Durante sua fala, Silveira subitamente levanta da cadeira, para a surpresa de alguns. O arquiteto não tem nenhuma limitação física e sua intervenção serve exatamente para mostrar que acessibilidade deve ser pensada para além das necessidades de pessoas com deficiência.
Segundo ele, o maior desafio na aplicação das leis que garantem mobilidade a todos está na forma de encarar o assunto. “Como pensador de espaços, jamais havia pensado na possibilidade de que alguém não pudesse entrar em um lugar que eu projetei. Porque nós, engenheiros e arquitetos, costumamos pensar as cidades para pessoas padrão, como se elas nascessem e morressem do mesmo tamanho, sem que as consequências de sua fragilidade pudessem atingi-la, ou seja, como se ele não estivesse suscetível a perdas funcionais”, descreve.
O nascimento de uma filha incapacitada de andar por consequência de uma paralisia cerebral o fez mudar seus conceitos sobre o assunto e estudá-lo a fundo. “Sou mais um aprendiz do que um especialista, pois o estudo é relativamente novo, apesar do tempo de história da humanidade”, diz.
RESISTÊNCIA
Silveira conta que em todas as cidades por onde passa costuma ouvir os mesmos argumentos para o descaso com a acessibilidade. Os principais são o suposto baixo número de pessoas com deficiência e a dificuldade de modificar o que já está feito.
Ele alerta que pessoas sem deficiência podem passar por limitações físicas permanentes ou provisórias por conta de acidentes. “Os comerciantes não entendem que tanto um público quanto outro pode ser seu cliente em potencial. Sem contar com os idosos e até com as mães que empurram carrinhos de bebês, que também são afetados pela falta de mobilidade. Nós avançaremos muito quando as pessoas entenderem que a acessibilidade deve ser pensada, não para as pessoas com deficiência, mas para as pessoas”, menciona o arquiteto.
LEIS
Segundo Silveira, em 2008 o Brasil assinou o documento de uma convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência. “As leis do Brasil são tão avançadas que não foi preciso modificar uma vírgula para se adequar a convenção”, resumiu.
O problema ainda está na aplicação das leis, completa o arquiteto. “O desconhecimento das próprias leis é um dos entraves, mas acredito que o pensamento tende a mudar, pois aos poucos as pessoas estão se conscientizando de pensar na acessibilidade não como uma obrigação”, completou. |