Aplicativo une voluntários para descrever imagens para deficientes visuais
O professor de física Pedro Pacheco de Queiroz Filho, 36 anos, mora perto da Estação Maracanã do metrô. Mas prefere pegar o trem na Praça Saens Pena. Mesmo levando o dobro do tempo para chegar até lá. São vinte minutos pilotando sua cadeira de rodas automática pelas ruas da Tijuca.
O esforço compensa. Ali, Pedro pode realizar uma proeza até pouco tempo inimaginável: descer a escada de acesso à estação sem ajuda. Tem uma cadeira aqui, avisa pelo interfone. Um funcionário aparece e, em vez de carregar o professor escada abaixo, aciona, com uma chavinha, uma engenhoca. Pedro entra numa espécie de elevador que o conduz, tranqüilamente, passando por cima dos degraus, até o hall das bilheterias. Depois, outra máquina idêntica o leva até a plataforma para esperar o trem. Tudo sem atropelos, sem constrangimentos. Coisa de Primeiro Mundo? Nem tanto. As plataformas para deficientes físicos foram instaladas, desde o final de agosto, em seis estações do metrô (Cardeal Arcoverde, Saens Pena, Estácio, Pavuna, Irajá e Colégio) e, até o final de outubro, estarão em outras quatro (Central, Carioca, Cinelândia e Tomás Coelho). Uma boa notícia, sem dúvida. Mas que, por ser tão surpreendente, chama a atenção para o lado oposto da moeda: o pouco-caso de que são vítimas os deficientes físicos na cidade.
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Várias leis protegem as pessoas que estão atreladas a uma cadeira de rodas. O problema é que a maioria não é respeitada, reclama o advogado Geraldo Nogueira Pinto, 40 anos, paraplégico há oito anos, desde que sofreu um acidente de carro. Segundo ele, todos os prédios públicos construídos a partir de 1978 deveriam ter acesso para deficientes. Outra lei, de 1987, determina que todos os ônibus da cidade tenham um elevador para facilita o ingresso das cadeiras. A vida como ela é: dos 7 500 ônibus municipais, apenas catorze circulam com o equipamento. Certamente pouca gente teve a oportunidade de ver um deles. Dizem que não existe demanda. Gostaria que isso fosse verdade, mas não é, protesta Lúcio Coelho David, 35 anos, presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência.
Otacílio Monteiro, diretor técnico do Sindicato das Empresas de Ônibus, dá um chute na responsabilidade. Deveria haver um atendimento especial para deficientes com vans e peruas adaptadas, sugere.
Segundo Otacílio, o ingresso do passageiro pelo elevador pode levar uns cinco, seis minutos, causando muita confusão nos já tumultuados pontos de ônibus. Pode ser, mas há outros argumentos contra a lei. Um equipamento desses custa em torno de 12.000 dólares. Colocá-lo em cada um dos 7.500 ônibus significa onerar os usuários, diz Otacílio. Apesar das resistências, o quadro pode mudar. A Secretaria Municipal de Trânsito formou uma comissão com representantes das associações de deficientes e dos empresários de ônibus para discutir soluções.
Estamos chegando a um acordo para adaptar 200 ônibus, comemora Lúcio Coelho. Seria um avanço.
Como é um alento ver plataformas de acesso em prédios como o da Pontifícia Universidade Católica e o de uma agência da Caixa Econômica Federal em Copacabana. Geraldo Pinto mora no bairro e vibrou. A gente se sente respeitado, diz. Ele é diretor do Centro de Vida Independente, associação de deficientes físicos que entrou com uma ação na Justiça, em 1995, contra o metrô.
Os sofisticados equipamentos importados custaram, no total, cerca de 1,5 milhão de reais. O valor é alto e chegou a ser contestado. Isso é brincadeira, protesta o secretário estadual de Transportes, Francisco Pinto. É um equipamento alemão, sofisticado, não é uma geringonça. Os deficientes nem entram nesse mérito. O que esperam é que, passado o ano eleitoral, os investimentos não parem. Queremos essas máquinas em todas as 32 estações do metrô, diz Lúcio. O problema é de vontade política, mira no futuro governador.
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