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Cotas abrem mercado de trabalho para profissionais com deficiência

Ao montar equipes diversificadas, empresas ganham em produtividade.

Lidiane Raupp Justo trabalha no Grupo Bettanin | Foto: Samuel Gambohan / Divulgação,Grupo Bettanin

Há cinco anos, um acidente de trânsito retardou o início da vida profissional de Braulio da Rosa Leite, de 20 anos, e deixou como sequela o uso de muletas para se locomover. Com a coluna fraturada, passou por um longo período de recuperação, atrasou seus estudos e, consequentemente, o ingresso no mercado de trabalho. Em 2011, porém, começou a trabalhar como operador de fundição na Stihl Ferramentas Motorizadas, em São Leopoldo, superou as dificuldades iniciais e já tem planos para a carreira.

— Estou tão motivado com a oportunidade que pretendo fazer o curso técnico em engenharia de produção para continuar a crescer na empresa. Eu sempre quis essa área, e a minha condição não me impediu de seguir meu sonho — testemunha.

Como Braulio, o cadeirante Ivan Amaral, 30 anos, faz parte do grupo de cem funcionários que têm algum tipo de deficiência entre os quase 2 mil empregados da Stihl. Amaral conta que, quando começou a trabalhar, ainda não tinha completado o Ensino Médio, mas o emprego o estimulou a completar os estudos e querer mais.

— Hoje estou cursando o técnico em segunça do trabalho e pretendo seguir adiante na carreira — relata o profissional.

Mais do que cumprir a legislação, a Stihl tem um programa que busca dar condições para que esses colaboradores possam se tornar cada vez mais produtivos em suas atividades.

— Para integrar melhor as pessoas com deficiência (PCDs), oferecemos treinamentos e workshops para todos que entram na empresa aprenderem a conviver com as diferenças e as limitações dos cotistas. Fazemos, ainda, acompanhamento individual para garantir que os PCDs estejam bem colocados ou se há necessidade de trocar de função — explica Eliane Dall-Agnese, analista de serviço social da Sthil.

A lei das cotas para deficientes foi a mola propulsora para as organizações compreenderem o processo de inclusão dessas pessoas, analisa Marcelo Rodrigues, sócio da Egalitê — empresa que recruta, treina e presta consultoria a PCDs.

— As companhias perceberam que o recrutamento assertivo coloca o profissional dentro do processo de trabalho e aumenta a produtividade. Mas isso exige esforço da empresa, investimento e preparação de lideranças — ressalta Rodrigues.

Um dos grandes desafios da inclusão está na delicada contratação de pessoal com deficiência mental e intelectual. O Programa Superar, do Grupo Bettanin — com atuação nos ramo de higiene, limpeza, acabamento, organização e conservação —, dá atenção especial a esse nicho de profissionais.

— Do total de 99 PCDs contratados, 69 têm algum tipo de deficiência mental ou intelectual. Temos acompanhamento próximo desse colaborador e também contamos com ajuda das famílias. Toda a equipe se envolve no processo, facilitando a integração e o desenvolvimento desse funcionário — salienta Cristine Lionello de Santis, responsável pelo Programa Superar.

Foi por meio da ação realizada pelo Grupo Bettanin que Márcio da Cunha Viana e Lidiane Raupp Justo conquistaram a carteira assinada.

A deficiência intelectual não impede que o auxiliar de expedição de 34 anos realize suas atividades. Assim como as deficiências múltiplas da jovem funcionária da linha de montagem não atrapalharam os seus anseios profissionais.

— Eu gosto muito do meu trabalho e dos meus colegas. Meu plano é ficar aqui até me aposentar — conta Lidiane.

GRANDE FAMÍLIA
No setor do armazém da Vonpar, em Porto Alegre, a triagem e montagem dos packs é realizada por uma equipe composta exclusivamente por funcionários com deficiência intelectual, exceto o monitor. O grupo começou a se formar há três anos e hoje se considera uma família.

— São como se fossem meus filhos, cuido deles e quero que prosperem sempre — elogia Felipe Viegas, monitor do grupo de PCDs do armazém.

A equipe, que faz parte de um time de 150 funcionários, se formou pela sincronia entre as vagas em aberto e as habilidades que eles apresentam: concentração, foco e produtividade, que são fundamentais para as funções que exercem, explica Amarildo de Souza, gerente de RH da Vonpar Marcos Schilling Martins, de 27 anos, diz que adora o seu trabalho:

— Fazemos rodízio aqui, mas gosto mesmo é de montar os packs com os produtos.


COMO FACILITAR A INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

• O recrutamento deve priorizar o potencial da pessoa com deficiência.
• As equipes que vão receber as pessoas com deficiência devem ser preparadas para entender as diferenças e o processo inclusivo.
• O principal receio dos gestores é sobre produtividade, mas quando conhecem melhor o assunto, conseguem fazer com que equipes apoiadas na diversidade alcancem altas performances.
• O maior inimigo da inclusão é o desconhecimento. Empresas que entendem as pessoas com deficiência conseguem ótimos resultados a partir da diversidade dos colaboradores.
• A lei de cotas é a mola propulsora da inclusão de PCDs no Brasil, mas as empresas que enxergam nela uma oportunidade de investir têm conseguido retornos sociais e também financeiros.
[Marcelo Rodrigues, sócio da Egalitê]

 
FONTE: Zero Hora [Maria Amélia Vargas] Topo ↑
 
 
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